domingo, 30 de agosto de 2015

Castelo Mendo

Para quem gosta de locais sossegados, longe das confusões turísticas e onde muitas vezes a história se conta pela boca dos habitantes locais, orgulhosos do seu património, não pode deixar de visitar as nossas belas Aldeias Histórias. Elas são doze e sete ficam no distrito da Guarda. Já visitei todas as que se localizam no meu distrito, só me falta ir a Idanha-a-Velha. 
Uma das últimas que visitei foi Castelo Mendo. Esta aldeia faz parte do concelho de Almeida e situa-se a 30 e poucos kms da Guarda. 

Foi durante a Reconquista Cristã que Castelo Mendo assumiu importância devido ao seu papel na defesa da fronteira face aos vizinhos reinos de Castela e Leão. 
Foi em 1229 que D. Sancho II deu foral à aldeia e criou a feira franca, que se realizava três vezes por ano, na Páscoa, na festa de São João e de São Miguel. Esta terá sido a primeira feira oficial do país. 

Também foi D. Sancho II que ordenou a construção do castelo da aldeia. Estas aldeias descobrem-se a pé. Deixe o carro no Largo das Portas da Vila (de modo a não estragar as fotografias de ninguém) e entre no núcleo medieval da aldeia.
D. Dinis mandou construir a segunda cintura de muralhas que se viriam a revelar extremamente eficazes nas lutas com Castela.  

A arquitectura desta aldeia é tipicamente beirã, casas em granito com dois andares, destinando-se o piso térreo ao gado e o piso superior a habitação, algumas com janelas manuelinas e varandas alpendradas  

 As igrejas e capelas em Castelo Mendo são algumas, esta é a Igreja de S. Vicente, também conhecida como a antiga Misericórdia. Terá sido construída na mesma altura da ampliação das muralhas. 

O Pelourinho de Castelo Mendo tem 7 metros de altura e é o mais alto das Beiras. Foi construído no século XVI em estilo manuelino. 
Neste largo do pelourinho encontra-se também a Igreja de S. Pedro, do século XIV. Não tenho foto porque das duas vezes que lá fui, o sol e os carros estacionados mesmo em frente, não me deixaram tirar fotos em condições. Se é para ficar mal, mais vale não tirar. 

 O edifício que mais impressiona nesta aldeia é a Igreja de Santa Maria do Castelo, ou melhor, as suas ruínas. Foi construída no século XIII nos estilos românico e gótico. 
 
 No seu interior o seu pavimento está repleto de sepulturas com inscrições quase ilegíveis.

Ali perto da igreja encontra-se a Sepultura do Fidalgo, D. Miguel Augusto Mendonça, fidalgo da Casa Real, assassinado pelos seus soldados a 12 de Setembro de 1840.  

Ao caminhar perto da igreja podem encontram-se também mais alguns vestígios do castelo medieval, como por exemplo a Porta do Castelinho

Se passarem pelo meu distrito não deixem de visitar Castelo Mendo e já agora as outras Aldeias Históricas aqui à volta. Vão ver que vale a pena. 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Barcelos

Há muitos, muitos anos fui a Barcelos mas a única coisa que me ficou na memória foi a feira e os galos ou não fosse Barcelos a terra do galo mais famoso do país. Em Março de 2012 voltei a Barcelos, voltei à feira e, claro, voltei a encontrar vários galos. 
Quanto a alojamento, fiquei na Residencial Arantes, muito bem situada, em frente do Campo da Feira e pertinho da Igreja do Senhor Bom Jesus da Cruz.

Ao falar de Barcelos, é impossível não falar do galo, até parecia mal de não o fizesse. Ao caminhar pela cidade podemos encontrar vários, de vários tamanhos e feitios. Acredito que toda a gente conheça a lenda do galo que é um verdadeiro embaixador da cidade, mas ainda assim aqui fica. 

"Segundo esta lenda, os habitantes do burgo andavam alarmados com um crime e, mais ainda, com o facto de não se ter descoberto o criminoso que o cometera. Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e, apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém acreditou. nele. Ninguém acreditava que o galego se dirigisse a S. Tiago de Compostela, em cumprimento de uma promessa, sem que fosse fervoroso devoto do santo que, em Compostela, se venerava, nem de S. Paulo e de Nossa Senhora. Por isso, foi condenado à forca. Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado que, nesse momento, se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa, exclamando: “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem”. Risos e comentários não se fizeram esperar mas, pelo sim pelo não, ninguém tocou no galo. O que parecia impossível tornou-se, porém, realidade! Quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Já ninguém duvidava das afirmações de inocência do condenado. O juiz correu à forca e viu, com espanto, o pobre homem de corda ao pescoço. Todavia, o nó lasso impedia o estrangulamento. Imediatamente solto foi mandado em paz. Passados anos voltou a Barcelos e fez erguer o monumento em louvor a S. Tiago e à Virgem." - in: http://www.cm-barcelos.pt/visitar-barcelos/barcelos/lenda-do-galo

A Igreja do Bom Jesus da Cruz situa-se no Largo da Fonte Nova e a sua origem está relacionada com o misterioso aparecimento de uma cruz de terra negra no chão do Campo da Feira em Dezembro de 1504. Com o intuito de proteger a cruz, foi logo construído um pequeno tempo. Dois séculos depois, iniciou-se a construção da igreja actual. É um dos mais notáveis exemplares da arquitectura barroca de influência italiano no país. 
No interior da igreja encontra-se a imagem do padroeiro, o Senhor Bom Jesus da Cruz, uma escultura do início do século XVI, quase em tamanho real em madeira de carvalho. 

No centro do largo encontra-se um chafariz que originalmente se encontrava num mosteiro em Vilar de Frades. 

Esta é apenas uma torre mas tem muitos nomes, Torre do Cimo da Vila, Torre de Barcelos, Postigo da Muralha, Torre da Porta, Torre da Porta Nova ou Torre da Cadeia. 
É a única torre que resta das três que fizeram parte da antiga muralha. Foi construída no século XV e serviu inicialmente como residência do alcaide. 
Entre o século XVII e 1932 foi usada como cadeia. Desde 2013 funciona como Centro de Interpretação do Galo e da Cidade de Barcelos.

A Igreja Matriz de Santa Maria foi construída no século XIV na transição do estilo Românico para o Gótico. A torre sineira só foi construída XIII e no início do século XX foi acrescentada a rosácea da fachada.

Mesmo ao lado da Igreja Matriz, encontram-se o Pelourinho e o Paço dos Condes Barcelos.
Este é um pelourinho gótico que terá sido construído nos finais do século XV ou princípios do século XVI.

O Paço dos Condes de Barcelos foi erguido na primeira metade do século XV por iniciativa de Afonso I, Duque de Bragança. À época em que foi construído, este castelo apalaçado, era a construção mais rica de Barcelos.
A decadência deste Paço iniciou-se em finais do século XVIII e o terramoto de 1755 veio a acentuar ainda mais essa decadência. Nas ruínas que restam já não é visível a primitiva torre nem as quatro chaminés. 

 Em 1872, diante do estado ruinoso do edifício, o município de Barcelos, determinou demolir o que restava. Essa demolição jamais chegou a concretizar-se na totalidade, devido a diversos protestos populares. O que nos restou - pouco mais do que algumas paredes e uma chaminé tubular.
É aqui no Paço que se encontra o cruzeiro associado à Lenda do Galo de Barcelos. 

No início do século XX, as suas ruínas passaram a albergar o Museu Arqueológico de Barcelos.
Aqui podemos encontrar peças que testemunham o povoamento do região desde a Pré-História. Sarcófagos medievais, símbolos heráldicos, marcos da Casa de Bragança, vários elementos arquitectónicos vindos de igrejas e conventos desmantelados e pedras brasonadas de antigas casas nobres já desaparecidas completam o espólio arqueológico em exposição. 

Termino este passeio pelo centro histórico de Barcelos com vista para o rio Cávado e Ponte de Barcelos. A ponte foi construída no século XIV e liga Barcelos a Barcelinhos. 
Ao longos dos séculos foi um importante local de passagem para os peregrinos do Caminho Português de Santiago e para as grandes feiras que se realizavam em Barcelos desde a Alta Idade Média.

Barcelos não é só o galo. Seja como peregrino a caminho de Santiago ou como turista à descoberta do Minho, recomendo uma visita à cidade. 

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Olivença - Espanha (ou talvez não)

O que será mais correcto? Dizer que Olivença é uma cidade espanhola na comunidade da Extremadura ou que é uma cidade portuguesa na comunidade espanhola da Extremadura?? A verdade é que esta foi uma cidade portuguesa, reconhecida pelo Tratado de Alcanizes de 1297. Alguns séculos depois, no ano de 1801, através do Tratado de Badajoz, a cidade foi anexada a Espanha. Apesar de em 1817 a Espanha ter reconhecido a soberania portuguesa e de se ter comprometido a devolveu o território, a verdade é que tal não aconteceu. 
Actualmente Olivença pode já não ser uma cidade portuguesa mas os testemunhos da herança lusa estão por toda a parte. 

Esses testemunhos da presença portuguesa em Olivença, encontram-se logo no edifício do Ayuntamiento, Câmara Municipal, da cidade. Este bonito portal manuelino dada do principio do século XVI e é um dos símbolos identificativos de Olivença.  

O portal manuelino pode ser um dos símbolos identificativos de Olivença mas a Igreja de Santa Maria Madalena é o seu monumento mais notável. De tão notável que é, em 2012 ganhou o concurso, promovido pela Repsol, "O Melhor Recanto de Espanha". É justo dizer que está é uma das mais belas igrejas portuguesas em estilo Manuelino, só que neste caso... em Espanha. 
A igreja foi mandada construir por D. Manuel I para servir como templo da residência dos bispos de Ceuta. Foi estreada por Frei Henrique de Coimbra, confessor de D. Manuel e o primeiro a celebrar missa no Brasil. Encontra-se sepultado na igreja.  
O seu interior é rico em azulejos, colunas retorcidas e motivos decorativos que remetem para a época dos Descobrimentos portugueses. 

O castelo de Olivença foi erguido pela Ordem do Templo, a quem Afonso IX tinha doado a aldeia como agradecimento da ajuda aquando da conquista do Reino da Badajoz. Depois de passar para mãos portuguesas, D. Dinis muralhou-o em 1298 e mais tarde, em 1488, D. João mandou erguer a torre de menagem, que se tornou a maior de Portugal. 

Durante a Guerra da Independência Espanhola (1808-1814), ficou bastante danificado e ficou abandonado durante vários anos, até que em 1975 foi recuperado e se transformou na sede do Museu Etnográfico da cidade.

Dentro das muralhas do castelo, encontra-se a Igreja de Santa Maria do Castelo. É uma obra de André d'Arenas e foi construída no século XIII no mesmo lugar onde antes existiu a primeira igreja da cidade.  

Depois de visitar Olivença e já a cruzar a fronteira com Portugal, encontramos a Ponte da Ajuda, ou melhor, o que resta dela. Esta antiga ponte cruza o rio Guadiana e ligava Elvas a Olivença.
A ponte foi mandada construir em 1510 por D. Manuel I. Em 1597 desabaram alguns arcos devido a fortes cheias; só foi reparada em 1641. Poucos anos depois, em 1646, foi parcialmente destruída pelo exército castelhano durante a Guerra da Restauração, tendo sido reparada no fim da guerra. 
Foi na sequência de uma outra guerra, a Guerra da Sucessão Espanhola em 1709, que a ponte foi encerrada após o exército castelhano a ter feito explodir.  Não voltou a ser reparada desde então e encontra-se em ruínas. Apesar disso é considerada pelo estado português como monumento de interesse nacional.

Actualmente, Olivença até pode ser considerada espanhola mas existe muito de Portugal no seu ADN e isso nota-se nas ruas que se assemelham às ruas alentejanas, nas placas toponímicas, em azulejo, no centro histórico, que em 2010 recuperaram os nomes portugueses, na calçada portuguesa e no estilo manuelino nos seus principais monumentos. 
Os 500 anos de passado português não são indiferentes a alguns habitantes da cidade, algumas dezenas já fizeram pedidos junto do Estado Português no sentido de obterem dupla nacionalidade. 
Talvez um dia a Questão de Olivença se resolva (mas eu não acredito nisso). 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Elvas

Em Julho de 2012 e depois de 8 anos sem nenhuma inscrição na lista do Património Mundial, Portugal volta finalmente a colocar mais um local nesta lista da UNESCO com a classificação de Elvas. Na lista designa-se por Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações. 
As fortificações de Elvas datam da época da restauração da independência de Portugal em 1640 e a sua construção e ampliação prosseguiu até ao século XIX. Representam o maior sistema de fortificações abaluartadas do mundo. No interior das muralhas, a cidade inclui grandes casernas e outras construções militares bem como igrejas e mosteiros.Várias das fortificações, desenhadas pelo padre jesuíta holandês João Piscásio, representam o mais bem conservado exemplo de fortificações do mundo com origem na escola militar holandesa.

A classificação de Elvas ocorreu eu Julho e eu visitei a cidade em Dezembro, a propósito do encontro de Natal do Postcrossing
Convido-vos então a passear um pouco por Elvas. 

Um dos monumentos de Elvas que não passa despercebido é o enorme Aqueduto da Amoreira, considerado o maior aqueduto da península Ibérica. Tem 8,5 quilómetros de extensão, 843 arcos com mais de cinco arcadas e torres que se elevam a 31 metros de altura.
No século XV, o poço de Alcalá tornou-se insuficiente para abastecer de água a cidade devido ao aumento da população. 
Em 1537 João III de Portugal designou o arquitecto Francisco de Arruda para executar o projecto do novo aqueduto de Elvas. As obras iniciaram-se no mesmo ano e só terminaram em 1620. 
Apesar de grande importância para a cidade, o aqueduto transformou-se num obstáculo à construção de novas de fortificações durante a Guerra da Restauração e a sua demolição chegou a ser considerada. No entanto, a povoação de Elvas opôs-se a esta medida, e o conde de São Lourenço, governador da Praça-forte de Elvas, conseguiu através de uma petição à Coroa que D. João IV desistisse da demolição.
Ainda bem que D. João IV desistiu dessa ideia. Hoje em dia o Aqueduto da Amoreira é um dos monumentos mais emblemáticos da cidade e uma das suas principais atracções turísticas. 

Um dos recantos mais bonitos e mais fotografados de Elvas é este pequeno largo onde se encontra o Pelourinho de Elvas e onde se vê o Arco de Santa Clara. 
Acredita-se que este pelourinho Manuelino foi erguido originalmente no concelho de Ouguela (hoje em dia concelho de Campo Maior) e depois trazido para aqui.  
O Arco de Santa Clara é uma construção de arquitectura Romântica datada do século XIX. Foi mandado construir pelo Dr. Santa Clara. Inicialmente chamou-se Porta da Tempre, em referência a um combate, supostamente lendário, entre a Ordem do Templo e os Mouros. 

Na Praça da República encontra-se aquela que já foi a Sé de Elvas. A Igreja de Nossa Senhora da Assunção foi construída entre 1517 e 1537; foi seda da diocese de Elvas desde 1570 até 1881.
Durante os anos que foi sé, a igreja foi sendo engrandecida e modificada mas apesar disso a igreja mantém a sua estrutura manuelina original.  

1229 é a data atribuída ao início da construção do Castelo de Elvas e D. Sancho II é considerado o seu 1º proprietário, embora já por ali tivessem andado os árabes. D. Fernando e  D. João II fizeram-lhe algumas alterações. 
O crescimento urbano da cidade levou à destruição de parte da estrutura do castelo medieval, no entanto a classificaçao como Monumento Nacional, permitiu a preservação da estrutura mais antiga iniciada no reinado de D. Sancho II. 
Este castelo é considerado um dos melhores exemplos da evolução histórica da arquitectura militar do país. 

Outro belo exemplo da arquitectura militar portuguesa, é o Forte de Santa Luzia, que justamente com os outros fortes da cidade, assumiu um papel importante na defesa da Praça-Forte de Elvas. 
A construção do forte iniciou-se em 1641, logo depois da Restauração da Independência Portuguesa. 
Este sistema defensivo conseguiu resistir ao ataque violento aquando a Batalha das Linhas de Elvas e ao cerco do exército Espanhol de três meses, em 1659. 

O Forte de Santa Luzia apresenta uma planta quadrangular com cerca de 150 metros, sendo constituído por diversos baluartes em estilo Vauban, revelins, coroas e outras obras militares. 
Hoje em dia o Forte alberga o Museu Militar do Forte de Santa Luzia.

Há mais para ver em Elvas. Espero que este post tinha despertado a curiosidade em visitar esta cidade alentejana, do distrito de Portalegre, conhecida como a "Rainha da Fronteira".